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o que é o PROGRAMA?

O programa consiste num conjunto de eventos a acontecer em 2025, em celebração do 10º aniversário do Portcorner. De importância central ao sucesso do programa, a inauguração de um novo showroom que funcionará também como 'Sala de Som', apresenta um sistema dinâmico, modular, que responde a diferentes necessidades e que visa ser utilizado também em benefício da comunidade local. Este acontecimento marca um novo capítulo para o Portcorner; confundindo ainda mais os limites entre a moda, o design e a musica através da procura constante da experimentação audiovisual, algo que nos inspira desde o primeiro dia.

sound on para contexto - The Navigators de Jóhann Jóhannsson

o SISTEMA DE SOM

Um sistema de som é tão bom quanto a soma das suas partes e a 'química musical' que resulta da combinação bem pensada - e por vezes feliz - de componentes de alta qualidade, como pré-amplificadores, amplificadores, dacs, colunas, gira-discos...  e a acústica do espaço, vai muito para além da tecnologia, do orçamento e do contexto mais ou menos audiófilo de 'reprodução fiel' do medium. A fidelidade com que os sistemas de som reproduzem o sinal de entrada define esse contexto, e para qualificar ainda mais este contexto, colocarei o foco no último componente da cadeia de reprodução: as colunas e a sua relação com o espaço.

Desde que me lembro que percorro uma jornada de melhoria continua da minha experiência musical, mas foi numa memorável noite de Outono no início dos anos 90 que começou a fazer sentido, quando um colega da universidade tocou o álbum de Lustmord 'Heresy' nos Klipsch 'Heresy' do pai (a sério) para uns quantos aficionados pós-punk, todos parecidos com o Steven Severin. O resultado foi pura catarse e conversão sincera.

Um nível semelhante de êxtase foi alcançado ao ouvir a obra prima do Canadiano Aaron Funks aka Venetian Snares, o album 'Rossz Csillag Alatt Született' lançado em 2005, e que celebra portanto 20 anos em 2025, desta vez num sistema á volta de um amplificador McInstosh MC152 e colunas JBL L100. 

Esta jornada em direção à reprodução fiel de musica assenta num principio fundamental: conseguir escutar o medium o mais aproximado a como o músico pretendeu que acontecesse; escutado mais do que ouvido...

Estou consciente de que nem toda a musica e discos são criados iguais, e as pequenas nuances na produção, o público-alvo e o 'trigger' emocional que cada disco, produção ou mensagem desperta no ouvinte, acabarão por ditar o sucesso de um sistema em detrimento do outro. Afinal, para os fans, é possível obter grande satisfação ao ouvir Merzbow ou Wolf Eyes, exemplos de um 'som' em que o 'polido' e o 'puro' não são necessariamente o objetivo principal. 

O speaker Klipsch Heresy IV, uma referencia de som de alta fidelidade em casa.

O icónico sistema 'Meyer Sound Blue Horn' que pode ser encontrado em alguns dos estúdios de gravação e masterização mais emblematicos do mundo. Se soar bem aqui, soa bem em todo o lado.

Amplificador McIntosh MC152

Colunas JBL L100 Classic 

a SALA DE SOM

Estes encontros com música tão surpreendente tem que estimular uma resposta imediata, alinhada com um motivo honesto para melhorar um sistema, e não com a necessidade de adquirir equipamentos mais caros ou 'audiófilos' só porque supostamente soam melhor ou têm um uma estética (mais) moderna. Vizinhos e decibéis à parte, a felicidade que advém de ouvir a nossa música favorita através de um sistema de qualidade que se conhece bem e se sente a evoluir, reverberando pelas carpetes e paredes, solto e livre, é demasiado sublime para ser expressa por palavras.
Com ênfase em colunas, passei 25 anos a configurar varias combinações de amplificadores, colunas nos espaços mais diversos, pelo que este cérebro entende o que é um bom setup quando ouve um.

Há já algum tempo que tenho vindo a observar a hype à volta de sistemas de som de todos os tamanhos e orçamentos em espaços públicos, como cafés e lojas de discos especializadas, bem como os mais incríveis sistemas 'custom'/personalizados um pouco por todo o lado mas especialmente em fóruns de audiófilos. Movidos pelo gosto de tudo o que é minimal e eficiente, uma nova comunidade de entusiastas do DIY e que ouve sons contemporâneos, complexos e desafiantes está a mudar a face do mundo audiófilo, para sempre. Eles querem que os seus equipamentos correspondam à sua musica, do eletrónico ao experimental, e às suas 'sources' modernas e atualizadas, fazendo a ponte entre o 'snobismo' audiófilo e as expectativas num mundo real. 

Em 2023, tive a sorte de estar em Londres, no lugar certo e no momento certo, para assistir à experiência 'Listening Room Dream No I' do artista de Brooklyn Devon Turnbull, na Lisson Gallery.

Uma experiência de áudio fascinante e um regalo para os olhos dos amantes da música e audiófilos presentes, que desencadeou o tipo de epifania que só acontece de vez em quando, especialmente se andamos à procura da melhor experiência sonora possível há décadas.


Colunas da Ojas. Devon Turnbull: HiFi Listening Room Dream No. 1. Lisson Gallery, Londres. Agosto 2023.

Uma replica da Western Electric 16A, amplificadores, fontes de alimentação. Cortesia de Mr. Byungsoo Yeh.

E qual é essa Epifania?

Tenho passado bastante tempo a observar e estudar o Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro na minha terra natal em Felgueiras, perto do Porto: a fotografar com a minha coleção de lentes vintage, a experimentar simulações da Fujifilm, a gravar sons... há uma aura de mistério e magnificência neste complexo extraordinário do século XII e nos seus arredores imediatos.

Então, há uns meses quando preparava esta entrevista com o com o honorável Sr. Byungsoo Yeh (um audiófilo Sul-Coreano que é o fabricante mais respeitado do mundo de réplicas de cornetas Western Electric modelo 16A, dos anos 20), tive uma visão:


'um Horn Western Electric 16A como peça central de um sistema de som instalado no centro da igreja, preparado para tocar 1 hora de música contemporânea de disposição litúrgica'.


Os Western Electric são considerados como o sistema de colunas vintage de referência, frequentemente descritos como o 'Nirvana' em propagação de som, com uma qualidade de som incomparável. E tudo isto oferecido por um sistema desenvolvido na década de 1930. Muito se tem escrito sobre estes verdadeiros gigantes que acompanharam o inicio do cinema falado/ouvido e a genialidade do seu desempenho eletromecânico e acústico, que produz um som verdadeiramente grandioso, ousado, dinâmico e exuberante.

Tendo sido criados para reproduzir música com intervalos de frequência amplos e necessitando de espaço para brilhar, são certamente uma combinação perfeita para uma igreja, certo?

O Mosteiro de Pombeiro em Felgueiras, fotografado de Leste. Novembro 2024.

o MOSTEIRO

O Mosteiro de Pombeiro é um importante complexo histórico e arquitetónico.  Classificado como Monumento Nacional desde 1910, o vasto complexo de edifícios encontra-se num lugar muito especial, repleto de beleza natural, um sonho para os amantes de filmes de 16 mm e 'field recorders', para ser apreciado em varios hectares de parque verde e floresta suave, intocados durante séculos.

A magnífica igreja monástica, construída entre os séculos XII e XIII, é um dos mais importantes edifícios religiosos em Portugal. Apresenta um desenho Românico com três naves divididas por arcos de diafragma e é testemunha dos gostos arrojados e estilos variados que foram sendo incorporados no seu interior, desde o período Medieval, Românico-Gótico até ao Barroco.

O interior é generosamente amplo e confortável, com capacidade para 200 pessoas e, com os seus três arcos de 10 metros de altura, o desafio de aperfeiçoar a acústica do espaço será significativo, mas fascinante. Instalar um Western Electric 16A é uma tarefa tremenda, e fazê-lo soar como esperado numa igreja desta dimensão não é tarefa fácil, mas nada de verdadeiramente impressionante foi alguma vez conseguido sem esforço!

Para melhorar as frequências baixas, a imagem stereo e 'soundstage' desenvolveremos experiências com colunas extra, cuidadosamente posicionadas em volta do WE16A e alimentados por potentes amplificadores monobloco a válvulas e fontes de alimentação especialmente preparadas. Cada peça da configuração final precisará de ser cuidadosamente encaixada no espaço, em diferentes niveis de altura, sem perturbar os instrumentos e ornamentos permanentes, e sem tocar em nenhuma parede ou teto.

o ORGÃO DE TUBOS

De especial destaque e consideração para nós, entusiastas da música, é o belíssimo Órgão de Tubos.

Com a sua talha dourada e base policromada a imitar mármore, o órgão localiza-se no coro alto, em posição lateral, do lado do Evangelho. Um órgão idêntico, mas falso, foi colocado ao lado da Epístola. A construção do órgão iniciou-se em 1766, pela mão de Francisco António Solha (ou Solla) segundo a inscrição no interior do instrumento:

"Organum Hoc ad maiorem Dei Gloria(m) construtu(m) et virgini Matri ac Parenti (Patri?) Benedicto confectum (Consecratum?) // Artificis D. Fransisci Antonii Solha, imperante R. P. D. Fr. Pedro de Nazare, 2 o vice D. Abbate. Anno Domini 1766."

Com o decreto de extinção das ordens religiosas, em 1834, o Mosteiro é então encerrado, tendo parte dos seus bens sido vendidos em hasta pública. O órgão, já mudo e em mau estado, é salvo e permanece no seu lugar original. Passará os próximos 200 anos em silêncio até à sua recuperação total em 2015, no âmbito de uma nova dinâmica cultural para a região, no âmbito da Rota do Românico.



O belíssimo Órgão de Tubos datado de 1766, totalmente renovado em 2015.


Pormenor dos tubos na parte frontal do órgão.


O coro alto da Igreja, mostrando a zona de assentos e parte dos tubos à direita (pertencentes ao órgão 'real').


Vista do coro alto perto da entrada principal a partir da área de assentos na parte inferior das traseiras.

Vista do altar da igreja pela parte de trás, tirada por baixo do coro alto, mostrando a nave central e também os tetos de madeira pintados de dourado nas laterais.

Entrada para a zona do coro alto no piso superior.

Com este facto histórico de extrema significância, a epifania fica completa. Esta é a cereja no topo do bolo do nosso ambicioso projeto, apropriadamente realizado no ano que assinala o 10º aniversário da reabilitação do órgão e da nossa própria como entidade.

A inauguração que se seguiu visou celebrar o órgão a ser tocado com sucesso novamente para uma plateia ao vivo, no dia 25 de Maio de 2015, após 200 anos de silêncio, ecoando os sons celestiais da "Ave Maria" de Bach/Gounod, sendo homenageado com a cerimónia de abertura do 4º Fórum Internacional sobre o Património Arquitetónico Portugal-Brasil.

o MATERIAL MUSICAL

Numa data a anunciar em breve, provavelmente em Dezembro, convidaremos os amigos do Portcorner e a congregação local para participarem na primeira sessão de escuta do sistema Portcorner, uma emocionante mix de 1 hora, de música contemporânea tocada no nosso sistema de som, com o exclusivo WE16A no epicentro. Uma experiência audiovisual inesquecível que não temos dúvida será o evento cultural do ano por aqui.

O material musical que compõe a nossa hora fantástica precisa de ser bem pensado: precisa de funcionar para o sistema e para a data, e propor uma experiência audiovisual moderna e envolvente que transmita uma mensagem de esperança e luz, ao mesmo tempo que exibe a beleza intrínseca da igreja e a sua ornamentação de cortar a respiração de uma forma nunca antes sentida/experienciada.

Os albums e a música foram selecionados seguindo um conjunto de critérios bem definidos, que vão desde a qualidade da produção à masterização, da dinâmica sonora ao 'soundstage', da preferência pessoal à abordagem estilística e à liturgia. Sem gira-discos ou outros leitores vintage, todas as músicas serão reproduzidas em ficheiros FLAC de 24 bits e 192 Khz sem perda de qualidade.

É uma coleção de música incrível, ao estilo do Portcorner, apoiada por dezenas de mixes complementares que temos vindo a lançar nos últimos 5 anos. Ajudado por uma playlist intemporal de décadas de música clássica moderna e ambient, do etéreo e do dramático, incorporando sons de órgão e coros suficientes para homenagear o lugar e a época. Música que faz parte do nosso tecido sonoro, que moldou o nosso gosto durante décadas e como ouvimos música hoje. Música delicada e natural, mas também sofisticada e complexa. Música que podemos tocar numa igreja.

Uma amostra do 'som e estética' das composições referência da coleção pode ser apreciada em baixo.


Rafael Anton Irisarri 'A Fragile Geography' (2015)

ouvir 'Empire Systems'

parte da mix #27

 

Arcana 'Dark Age of Reason' (1996)

ouvir 'Angel of Sorrow'

parte da mix #46

 

Dead Can Dance 'Within The Realm of a Dying Sun' (1987)

ouvir 'Persephone (The Gathering of Flowers)'

parte da mix #191

 

Giulio Aldinucci 'Disappearing in a Mirror' (2018)

ouvir 'Jammed Symbols'

parte da mix #162

 


Atualizado 03.01.2025